Quem diria que um simples projeto escolar poderia mudar tantas perspectivas? Em Choró, um município cearense com pouco mais de 12 mil moradores, estudantes da Escola Estadual EEMTI Emanuel estão vivendo uma experiência que tem aberto mentes e tocado corações — inclusive o deles próprios.
Tudo começou com uma inquietação: e se, em vez de só estudar o meio ambiente na teoria, a gente fosse entender de perto quem, todo dia, põe a mão na massa para cuidar do planeta? Nasceu assim o projeto “Histórias de Quem Coleta o Amanhã” — um nome que já diz muito. Quinzenalmente, os alunos saem das salas de aula e vão até os galpões de reciclagem e casas de catadores locais. Não é apenas uma visita: é um encontro de histórias, de olhares e de reconhecimento.
Ana Cleide, uma das catadoras envolvidas, fala com orgulho: “Não cato lixo, cato reciclagem. É disso que vivo e com isso criei meus filhos com dignidade. A gente ajuda o mundo e ainda é invisível pra muitos”. Mas não para esses jovens. Para eles, Ana tem nome, tem história — e agora tem lugar garantido nos cadernos e nas memórias.
O projeto, guiado pela professora Adriana Barros, vai além: os catadores também são convidados a conhecer a escola. Lá, são recebidos com carinho, entrevistados pelos alunos e têm suas histórias registradas. Muitos, ao se verem valorizados, até cogitam voltar a estudar.
Maria Aparecida, aluna do 2º ano, confessa: “Achei que era só mais uma atividade da escola. Mas ouvir essas histórias mexeu comigo. A gente aprende a enxergar o outro de verdade. Isso também é educação.”
Hoje, 18 famílias de Choró tiram seu sustento da coleta seletiva — um trabalho essencial que merece respeito e visibilidade. O projeto não só ensina sustentabilidade, mas também empatia, cidadania e humanidade.
Se você acha que reciclar é só separar o lixo, é hora de rever seus conceitos. Tem gente por trás disso — e eles têm muito a ensinar.